1. |
Canção do Jequitibá
03:45
|
|||
Nas rugas ressequidas da paisagem,
inescrutável totem,
cavando a voragem
do nadir.
Salta em ancestral ascensão,
transpostas gerações de homens,
mirando o açafrão
do zênite.
Destila do sol e do chão
o azeite e o elixir.
Ancião.
Estrangeira voz de areia e sal:
harmatã na floresta
tropical.
|
||||
2. |
Hora Morta
04:57
|
|||
Lenta e lenta a hora
Por mim dentro soa
(Alma que se ignora!)
Lenta e lenta e lenta,
Lenta e sonolenta
A lua se escoa...
Tudo tão inútil!
Tão como que doente
Tão divinamente
Fútil — ah, tão fútil
Sonho que se sente
De si próprio ausente...
Naufrágio ante o ocaso
Hora de piedade...
Tudo é névoa e acaso
Hora oca e perdida,
Cinza de vivida
(Que Poente me invade?)
Por que lenta ante olha
Lenta em seu som,
Que sinto ignorar?
Por que é que me gela
Meu próprio pensar
Em sonhar amar?...
Que morta esta hora!
Que alma minha chora
Tão perdida e alheia?...
Mar batendo na areia,
Para quê? para quê?
P'ra ser o que se vê
Na alva areia batendo ?
Só isto? Não há
Lâmpada de haver —
— Um — sentido ardendo
Dentro da hora — já
Espuma de morrer?
(Fernando Pessoa)
|
||||
3. |
Messalirana
03:32
|
|||
Cego olhar albino,
os seios de Messalirana me perscrutam.
Crustáceos troglóbios;
Profunda gruta.
Tentáculos -- vampirotêutis,
As ninfas de Messalirana batem asas
(Aurora dedos róseos)
e envolvem o mundo: madimbus.
Injusto, corcunda,
anseio a penumbra da catedral.
Pois não é pecado, afinal?:
A mão calejada lamber tão glabra bunda.
|
||||
4. |
Entre sonhos e...
03:52
|
|||
Entre sonhos e pernilongos
Tenho um sono agitado
Suor escorre na noite escura
Quanto calor opaco
Não há um cobertor que cubra
Não há um guarda-chuva
Que proteja esse império
De mistério e saúvas
A estrela matutina
O açoite dos motores
Nada ilumina essa penumbra
O zumbido na orelha
A centelha na janela
Não penetra a pálpebra fechada
Tudo é febre e alumbramento
Limbo e teofania
O corpo inerte não denuncia
A polução que dentro
Dançam deuses, orixás e ninfas
Térmitas, fosfenos, seios
Pisoteando as pupilas
Que orbitam no avesso
Último país fértil
Contra a vigília estéril
Não me acorde mãe
Não me acorde, ó mãe
Não me acorde ainda
Não quero cruzar as fronteiras dessa hipnose
Espírito enfim liberto
Dos grilhões do corpo
Não me acorde mãe
Não me acorde, ó mãe
Não me acorde ainda
Aqui realizo a utopia de minha gnose
Quando chega o inevitável
Desvelar das cortinas
Tanta luminosidade
Dói
Dói
Dói
|
Tabacaria Belo Horizonte, Brazil
Canção popular / experimentos sonoros. || Pop songs / sound experiments
Streaming and Download help
Tabacaria recommends:
If you like Tabacaria, you may also like:
Bandcamp Daily your guide to the world of Bandcamp